sábado, 5 de abril de 2008

A gente vai fuçando e encontrando...

Voando baixo
Pedro Dantas

Quem esteve nas praias de Ipanema, Leblon e Barra da Tijuca nos últimos
finais de semana se surpreendeu com a cena. Um parapente motorizado
dotado
de uma hélice, chassis com motor, um tanque de dez litros de combustível
e
uma vela semelhante à de um pára-quedas fazia vôos rasantes em linha
reta
sobre as areias lotadas de banhistas.

Enquanto as crianças admiravam boquiabertas, os adultos pensavam
apreensivos em quem havia aprovado a idéia perigosa de propaganda com um

paramotor sobrevoando as lotadas praias do Rio.

A iniciativa, que já dura pelo menos um mês, chama a atenção para a
facilidade da propaganda clandestina aérea que, segundo denúncias,
carece
de fiscalização e não paga tributos.

O autor do empreendimento, que rende R$ 600 por hora de vôo, é o
empresário
Ricardo Muniz Freire, de 39 anos. Ele reconhece não ter autorização do
Departamento de Aviação Civil (DAC), critica as exigências de segurança
e
garante que a propaganda aérea não oferece riscos aos banhistas.

- Já fechamos contrato com as empresas Verty e Pontapé para o verão. No
Brasil, é novidade, mas no exterior esse tipo de propaganda é comum. Se
você coloca um paramotor na mão de pessoas não habilidosas, pode ser
perigoso. Porém, voando em baixa velocidade e em linha reta, o risco é
próximo de zero - garante Freire.

O bicampeão brasileiro de vôo livre e pioneiro em paramotor no Brasil,
Rui
Marra, discorda do empresário e aponta que as normas de segurança do
equipamento exigem que o sobrevôo aconteça sobre a água a cerca de 50
metros da areia e em altura de 300 pés ou 100 metros.

- O paramotor é um equipamento sofisticado e difícil de ser controlado
cujo
de peso de 40 quilos em mãos erradas pode ser fatal para o piloto e para
a
população em terra - alerta Marra.

Com a experiência de três mil horas de vôo e sem nenhum acidente, Marra,

treinador de todos os pilotos de paramotor no Brasil, denununcia que os
dois pilotos contratados por Freire são desconhecidos da Associação
Brasileira de Vôo Livre (ABL), a única entidade autorizada pelo DAC para

credenciar condutores de esportes aéreos não motorizados.

- Jamais aprovaríamos esta prática irresponsável. Já fomos contatados
pelas
autoridades que querem saber quem está por trás disso - revela o
campeão.

Uso do paramotor não tem normas definidas

O Terceiro Serviço Regional de Aviação Civil (Serac 3) que fiscaliza as
normas do DAC no Rio já chamou Ricardo Muniz Freire para pedir
esclarecimentos e, segundo o empresário, teria requisitado a suspensão
temporária dos vôos e a apresentação do projeto de propaganda para o
verão.

No entanto, nada parece desanimar Freire que se diz pronto para cumprir
qualquer exigência do DAC e já planeja expandir a propaganda para os
céus
de Copacabana.

O motivo da tranqülidade do empresário está na ausência de normas do
paramotor. O equipamento sequer está catalogado no site oficial do DAC
como
esporte aéreo onde constam apenas as modalidades Planador, Ultraleve e
Asa
Delta ou Parapente.

Se incluído na categoria de Asa Delta e do Parapente, a seleção ficaria
a
critério da Associação Brasileira de Vôo Livre, mas como é dotado de
motor
e hélice pode ser incluído na mesma modalidade dos ultraleves e dos
planadores cujas exigências são mais rígidas.

No entanto,segundo pilotos ouvidos pelo Globo On Line, as criteriosas
normas do DAC não comprometem os vôos clandestinos nos céus do Rio cujos

pequenos aviões que fazem propagandas nas praias estão acostumados a
ignorar os trâmites como o pagamento de taxa de autorização de
publicidade
cobrada pela Secretaria Municipal de Fazenda de 501,60 Ufir's e até o
seguro obrigatório para aeronaves de pequeno porte.

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